8 de abr. de 2011

Verbete

É palavra não dita
não a toco, é loucura lembrar.
Enterrada?
Não fui tão forte assim,
trago-a displicentemente escondida,
na preguiça de esquecer.
Pura ilusão.
Viro a esquina e está lá,
mais viva do que nunca:
é seu nome.

Não, você não tem letras:
tem rosto, cheiro, voz,
tem gosto de beijo.
tem gosto do que eu queria que ainda fosse.
Pronuncio-te na falta de ar,
no opaco dos olhos, no riso contido,
e no silêncio
que tantas vezes me acomete.
Ou então nas horas
em que, como hoje,
o mundo fica triste,
e o momento cobra o abraço
que em mim você não fechou.

Não achei outra no dicionário:
não, nada se encaixou tão bem na redação.
Sigo folheando livros:
Quem sabe a palavra “surpresa”
não venha me assaltar?
Adjetivando a sua
ou tirando todo sentido.
Assim eu espero,
ou não.

Gabriela M. Machado 08/04/2011

12 de mar. de 2011

Eu e a bronca dos velhinhos

Hoje definitivamente cheguei à conclusão de que eu atraio comentários de velhinhos que querem dar conselhos à juventude. Todos no melhor estilo “bronca carinhosa”. Será que tenho cara de representante da classe?

Cena 1

Essa é antiga, tem uns 5 anos.

Estava numa praia em Guarapari, minha irmã e minha prima no mar, até que resolvo entrar na água também para encontrá-las. Essa estava bem fria e eu espero, já com meia perna submersa, tomar coragem para mergulhar direto (já fui mais intrépida com água fria, mas os anos chegam e a frescura também, reconheço). Então fico um bom tempinho, dizendo para mim mesma que já já vou mergulhar.

Eis que neste momento de espera, um senhorzinho passa por mim saindo da água, olha com leve indignação e me diz: “Entra logo!”. Eu, surpresa e sem graça dou alguma justificativa: “já vou entrar, estou só acostumando com a água”. Achei que isso satisfaria o velhinho, mas não. Ele pára e diz: “Vamos lá, vou esperar você entrar”, com uma cara realmente de contrariado, como quem pensa “ah, esses jovens de meia tigela de hoje...não se faz mais juventude como antigamente”. Impaciente, ele vê que vou demorar e se vai ainda contrariado. Eu finalmente entro na água e encontro minhas irmã e prima, que se divertiam tentando imaginar que diálogo estava sendo travado. Surreal.

Cena 2

1 ano atrás.

Era meio-dia e tinha acabado de fazer uma caminhada no calçadão. Geralmente uso boné, mas neste dia tinha esquecido e estava sem camiseta, só com um top de ginástica, aproveitando para pegar uma cor (mas usando protetor solar, que fique registrado). Estava me alongando perto de um sinal de pedestres e um grupo atravessava a faixa nesse momento.

Eis que uma senhorinha vem exatamente na minha direção, passa por mim e fala: “Desse jeito vai acabar com sua pele”. E no mesmo passo, segue seu caminho. Surreal 2.

Cena 3

Hoje.

Estava mais uma vez, fazendo caminhada, no calçadão de Icaraí quando começou a chover. Daquela chuva que não encharca mas que vem molhando devagar, chatinha. Parei debaixo de uma boa amendoeira para me abrigar e pensar se seguia adiante ou esperava. Andando em direção contrária à minha, passam 3 senhorinhas com roupas de ginástica, dispostas e falantes como elas só (e como eu quero ser). No exato momento em que passam ao meu lado, a senhora que estava mais próxima a mim, olha toda simpática e sorridente e me diz com um tom “puxão de orelha carinhoso”: “Bora, bora!” e continua andando.

Eu ri, e com os brios “jovens” mexidos resolvi caminhar na chuva mesmo. Como não? Depois de uma senhorinha simpaticamente me esculachar?

A chuva apertou, virei refrão de música de Vanessa da Mata, e pensei: quando receberei minha próxima bronca?

18 de fev. de 2011

Não vivo sem Ele

“Deus nos criou: inventou-nos como um homem inventa uma máquina. Um carro que tenha sido feito para ser movido a gasolina não funciona direito com outro tipo de combustível. E Deus projetou a máquina humana para funcionar à base dele mesmo. Ele é o combustível do qual nossos espíritos devem se alimentar. Não há nenhum outro. Eis por que não é bom pedir a Deus que nos faça felizes do nosso próprio jeito, sem nos preocuparmos com a religião. Deus não pode nos dar felicidade e paz fora de si mesmo simplesmente porque não existem desse modo. Não há nada parecido com isso.”

C.S. Lewis, Cristianismo Puro e Simples

“Fizeste-nos para Ti, e inquieto está o nosso coração, enquanto não repousa em Ti.”

Santo Agostinho, Confissões
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Para lembrar sempre.

11 de fev. de 2011

Alguém dá conta por mim



Voltei!

A semana de férias foi curta e já estou de volta há um tempo. Escrevi o texto que segue abaixo durante a mesma, e pretendia publicar aqui assim que retornasse. Mas as “coisas que me aguardavam” não me permitiram.

Tudo bem. Essa demora acabou encontrando um significado: após vários dias experimentando uma tensão muscular na região cervical, essa semana uma crise de ansiedade veio finalmente me fazer entender o que estava desencadeando todos os outros sintomas.

Se no início do ano eu pensei sobre o assunto (como verá no texto) e acabei deixando para lá no turbilhão de coisas, a vida quis me assegurar de uma maneira bem peculiar: “Gabi, você não é a mulher-maravilha”.

Valeu, eu entendi. Vou tirar a mão do volante e desacelerar.

E para você que acha que está tudo bem, desacelere também, #ficadica.

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Fim de férias. Começo a pensar na lista de coisas que me aguardam assim que colocar os pés em Niterói. E um sentimento parecido com “desespero” bate no coração.

Reconheço: é o meu perfeccionismo e a ilusão de que as coisas podem ser perfeitas aqui que estão me atacando novamente (eu já devia ter aprendido, mas eu chego lá).

Faço a lista, movida por uma sede de “coisas plenas” (meu coração sente muito isso): não “dou conta” de ser filha, de ser irmã, de ser amiga, de ser profissional. Não “dou conta” de nenhum de meus papéis no mundo. Aliás, nem “dou conta” da minha relação com o Pai.

Queria abraçar mais, entender mais, corresponder mais. Queria resolver coisas que estão além do meu alcance...ah se eu pudesse. Queria desatar nós. Queria ouvir e me conter, queria falar menos, mas também falar o que é precioso. Queria que meus olhos expressassem mais o que realmente me importa e expressassem menos minhas contrariedades. Queria falar o necessário (e difícil muitas vezes) sem magoar. Queria amar a despeito das decepções que nos causam. Queria ser mais objetiva, sem perder a sensibilidade. Queria priorizar sempre o mais importante...

É a lista não termina. E a angústia aumenta.

Mas eis que eu me lembro de dois textos tão conhecidos e tudo muda: do questionamento do apóstolo Paulo “Quem, porém, é suficiente para estas coisas?” e do convite de Jesus “Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração; e achareis descanso para vossa alma”.

A vida só é possível assim: “dar-se conta” de nossas fraquezas e vulnerabilidades e entregar o controle para quem de fato, dá conta do recado. Ousar fazer diferente é fracasso na certa, é “dar com os burros n’água”.

Depois disso penso: obrigada Deus. Fecho os olhos e só assim posso dormir.

1 de jan. de 2011

Dá licença, eu tô de férias!

Eu quis passar aqui para dar um oi. Eu quis escrever impressões. Eu quis colocar um pouco de mim neste lugar nesses últimos dias.

Mas não deu. Preciso mesmo é descansar. Então...

Fui. Parti. Bye. Tchau. Até breve! 1 semaninha sem computador...tudo que eu preciso.

Na volta a gente se fala.