21 de out. de 2009

Sobre a esperança

Porque a cada dia é preciso ter mais...

Piscar de olhos

Abro os meus olhos, um novo dia,
Novo apenas na quantidade:
Mais sangue nos jornais, mais fumaça em meu pulmão,
Mais dinheiro p’ro mesmo pão.
Menos tempo para ver o céu, as estrelas, as árvores;
Menos abraços, menos calor, menos coração.
Minha mente, uma máquina registradora,
Contabiliza, checa as estatísticas, verifica as probabilidades:
Amanhã será tudo igual;
Mudarão apenas os números, certamente mais terríveis.

Fecho os meus olhos, um velho sonho,
Comum ao homem de toda idade:
Mais sangue nas veias, mais bolhinhas de sabão,
Mais dinheiro p’ro meu irmão.
Menos óculos para ver o céu, as estrelas, as árvores;
Menos socos, menos frio, menos solidão.
Minha alma, uma câmara reveladora,
Capta os instantâneos, testemunha outras realidades:
Amanhã será tudo igual;
mudarão apenas os homens, certamente mais felizes.

Piscar de olhos, tão curto o espaço,
Comprido na fração que se repete:
Linha tênue, terra nebulosa, eis a esperança!
Nem sonho, nem realidade; utopia e concretude ao mesmo tempo.
Dois mundos que se tocam e se misturam
Criando um novo mundo possível.

Piscar de olhos, tão leve o ritmo,
Marcado na batida insistente:
Silencioso motor que empurra a vida, eis a esperança!
A dúvida que inquieta; a certeza que tranqüiliza,
A eternidade no coração do homem, diria o sábio, que a sabe
Centelha divina que faz o sangue correr nas veias.


Gabriela Machado Machado 24/04/2002

2 comentários:

Samuel disse...

Muito legal...

Anônimo disse...

Belíssimo texto.
Parabéns!