23 de mai. de 2010

Em frente



Foi num dia comum que percebi:
o passado não é mais minha casa.

Recebi a notícia sem surpresas, pois
lembrei-me de ter visto, pouco a pouco,
suas paredes deixarem de me cercar.
Sim,
carrego algumas coisas
que havia lá dentro:
cores, cheiros, sons,
vozes, sorrisos, rostos,
corações.
E minha identidade, claro. Em construção.

Sinto que piso em outras terras
e o novo está diante de mim.
Embora este, muitas vezes,
tenha cheiro de nada.

Não me assusto:
mais livre,
não procuro o futuro
em sôfregas e constantes consultas
aos elaborados projetos de meu caderno de viagem.
Sei que ele está
nos traços de cada dia que começa,
e espero os desenhos do tear
que compassadamente
rege as tramas de minha vida.

Não tenho pressa, às vezes paro;
que os outros passem por mim.
As pausas e não apenas notas,
são essenciais à partitura.
E a aventura também se faz
de silêncio e solitude.

A curiosidade, sim, sempre estará lá
no abrir de mais uma porta,
ou janela.
Mas engraçado: sempre acelerado,
o coração já não é mais intranqüilo.
Conheço melhor meus pés,
e a Mão que me conduz.

Estou apenas no caminho.
E isso é muito bom.

23/05/2010, Gabriela M. Machado

3 comentários:

Debora Bello disse...

Gabi, que belas palavras! Encorajadoras para viver o novo, e para viver o presente, aproveitando cada momento.
bjs,
Debs

Anônimo disse...

Belo texto Gabriela! Em muitos sentidos...

LSALídia. disse...

Palavras lindas, cheias de sentimento, cheias de você! =]